Educação com afeto

Por José Renato Nalini*

A escola brasileira carece de muita atenção de parte de todos. E isso tem razão de ser. O constituinte de 1988 foi bastante sábio ao dispor, no artigo 205 da Constituição Federal, que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, a ser ministrada com a colaboração da sociedade.

 A escola pública ainda é a guardiã da maior parcela da infância e juventude em nosso país. Só o Estado de São Paulo, por exemplo, conta com uma rede de mais de 5000 escolas, espalhadas por 645 municípios e atende a mais de 4 milhões de alunos.

Enquanto a República destina 25% de sua tributação para a causa educacional, São Paulo reserva 30% a cada ano. São recursos bilionários, porém nem sempre suficientes para atender às necessidades presentes e gerar os investimentos essenciais rumo a uma verdadeira educação de qualidade.

Mas o ingrediente de que a educação pública mais necessita é o carinho e o devotamento integral por parte de todos os seus responsáveis.

 A prolífica normatividade incidente sobre a educação e a ampliação das estruturas administrativas esgotam boa parte dos insumos humanos, que deveriam estar direcionados, exclusivamente, para o aprimoramento da finalidade da escola.

 Pensando nisso e após visitar inúmeras escolas, idealizamos o projeto “adoção afetiva”, para fazer com que entidades, empresas, clubes e até pessoas físicas, se aproximassem das unidades educacionais públicas no Estado de São Paulo, com vistas a desenvolver projetos carinhosos.

Houve adesão de verdadeiros evangelizadores escolares. Aqueles que se compenetram de que a educação é a única e a mais eficaz chave de transformação da sociedade brasileira e que, só por isso, deve ser a política nacional mais incrementada.

Dentre os inúmeros excelentes resultados obtidos, registro o altruísmo entusiasta da dinâmica Senhora Suzy Damasceno, presidente do Rotary Club de São Paulo Brás. Motivada e idealista, conseguiu compor um grupo que se encarregou de fazer chegar a várias unidades de ensino a benfazeja atuação rotariana, expressa em múltiplas formas.

Chega a ser milagroso o resultado de um abraço terno em uma escola que nem sempre tem experiência com o amor. Verifica se, em curto período, significativa transformação do ambiente escolar. As crianças são generosas na retribuição ao amor recebido. Passam a se sentir prestigiadas, são individualmente reconhecidas e entregam-se com maior afinco ao aprendizado. Há magia na valorização do ser humano. Ele recupera a autoestima, sem a qual ninguém consegue desabrochar.

Sente-se também o efeito benéfico em relação aos partícipes da adoção afetiva. Tomam conhecimento com uma realidade geralmente ignorada pela maior parte da população. Não tinham noção das dificuldades enfrentadas pelos educadores, nem da carência que afeta parcela considerável dos educandos da rede pública.

 O Rotary tem expertise em acionar alavancas que promovem mutações no meio social. Seus integrantes já são nutridos pela consciência de que todos somos responsáveis pela comunidade em que vivemos e que solidariedade não é modismo, senão ferramenta fundamental de aprimoramento do convívio.

Foi decisiva a participação de vários clubes rotarianos que adotaram afetivamente inúmeras escolas estaduais. Elas passaram a experimentar nova e profícua fase, como se verifica nas escolas estaduais Eduardo Prado, Romão Puiguari,Padre Anchieta e Professora Lina da Costa Couto, dentre tantas.

A ideia da adoção afetiva só obteve êxito porque encontrou eco em corações generosos como os de Suzy Matias Damasceno e sua equipe. São Paulo contraiu uma dívida de gratidão para com todos os que acreditaram na proposta e mergulharam nela.

* É reitor da UNIREGISTRAL e docente da pós-graduação da UNINOVE. Foi Secretário da Educação do Estado de São Paulo-2016-2018.