Espaço Acadil: O sonho do veículo elétrico

Aos dezesseis anos, comecei a trabalhar durante o dia e estudar à noite. Foi num representante da Lambretta do Brasil, em Itu,que também vendia peças e acessórios para motocicletas. Eu e meus amigos comprávamos as “cinquentinhas” (50 cc) permitida pela legislação vigente: Gullivettes, Leonetes, Monaretas, Javinhas… Aos sábados, saíamos em grupo em direção à gruta, pela estrada Parque, nosso passeio favorito que deixou saudades. Gostávamos de abastecer nossas motinhas no posto do largo do Carmo que fornecia gasolina azul, aumentando a potência das “cinquentinhas”.

Anos depois, com a crise do petróleo, surgiu o Pró-Álcool e os primeiros veículos movidos a etanol, extraído da cana-de-açúcar. Depois vieram os carros “flex” que podiam ser abastecidos tanto com gasolina como etanol, em qualquer proporção. Os automóveis a diesel eram raros, o combustível era destinado ao transporte de carga e coletivos.

Ao surgir os primeiros veículos elétricos, muita gente não acreditou na novidade, mas eles estão aí, conquistando aos poucos o mercado com preços elevadíssimos.

Não há como não se preocupar quanto a duração das baterias, principalmente se você estiver numa rodovia. Ainda há barreiras para os veículos elétricos, ou seja, a falta de uma estrutura para a recarga deles. O consumidor fica apreensivo ao empreender uma viagem e de repente ficar sem carga nas baterias, antes de chegar ao destino. Além disso, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) é mais elevado nos carros elétricos, cerca de 10%, enquanto para um veículo 1.0 é de 3,27%. Aliás, lembremos que as baterias dos veículos elétricos duram em média de oito a dez anos. 

Preocupações: Quanto vai custar a substituição dessas baterias por novas? Como as baterias vencidas serão descartadas? Haverá um sistema para reciclagem das mesmas? Nosso país estaria habilitado a produzir essas baterias e haveria oferta de energia suficiente para reabastecê-las? O custo dessa energia será igual ao doméstico, ou quando a frota for significativa, o governo vai estabelecer parâmetros rígidos, elevando o preço da energia ou criando novos impostos? Como será a desvalorização de um veículo elétrico, após alguns anos? Haverá dificuldades para revendê-los, ao avaliar-se a pouca durabilidade restante das baterias? São questões que precisam ser respondidas.

Tudo isso precisa ser bem pensado e requer calma, antes dos interessados adquirirem um veículo elétrico.

Os preços dos automóveis elétricos são proibitivos à maioria dos mortais. A classe média vai enfrentar dificuldades para comprá-los. Apenas os ricos é que podem se beneficiar com essa nova configuração de motores, provavelmente para exibicionismos.

A indústria está produzindo veículos híbridos, um motor a combustão e outro elétrico, aumentando o tempo de rodagem e evitando que você fique parado numa estrada.

O melhor é mesmo pesar tudo numa balança antes de decidir-se.

Guilherme Del Campo
Cadeira nº 1 I Patrono Mário de Andrade