Estórias de caserna

J.C. Arruda

São inúmeras as histórias que contam sobre o Quartel de Itu. Algumas gloriosas, outras nem tanto. Aliás, as histórias reais são gloriosas. As outras são fantasiosas, mas são estas que os militares adoram contar. Como é o caso do mastro gigante que deveria ser implantado no páteo, como se fosse um obelisco, para celebrar certa solenidade. Por ordem do comandante, foi encontrado um eucalípto gigante, o qual foi cortado à machado (aquele tempo não existia motoserra!) e arrastado por uma viatura até o páteo. Só aí foi constatado que, se derrubar a árvore e transportá-la foi difícil, muito mais difícil seria colocá-la em pé, já na forma de mastro.

Houve várias tentativas, todas inúteis, utilizando caminhões, tratores etc., pois o monstrengo, além de muito alto, era encorpado e pesadíssimo. Reuniu-se o alto comando e chegou-se a conclusão que somente um guindaste daria jeito. Mas, o guindaste mais próximo estaria em São Paulo e teria toda uma burocracia para consegui-lo. Foi aí que o Tenente Baretta, tranquilizou o comandante: – Fique tranquilo, senhor, que amanhã o mastro estará de pé.

No dia seguinte, quando o Comandante chegou ao quartel, a bela surpresa: o mastro estava majestosamente fincado em meio ao páteo e, perfeitamente no plumo. Mandou então chamar o Tenente Baretta, deu-lhe os parabéns, mas quis saber como havia conseguido a proeza. O Tenente explicou: – Chamei o Sargento Raimundo, o Cabo Severino e dei a ambos a ordem de pegar mais cinco soldados e que, antes do anoitecer, o mastro deveria estar em pé. Senão iria sobrar punição para meio mundo…

Até hoje, ninguém sabe como, mas eles conseguiram…

Outra historinha que eles gostam de contar foi quando da visita do General Humberto de Souza e Mello ao Regimento. Dentre várias solenidades ele foi conduzido ao Cassino dos Oficiais e ficou surpreso quando viu várias latas de óleo vazias, daquelas de 20 litros, espalhadas pelo salão. O comandante explicou-lhe que eram para aparar a água das goteiras no local e que, devido ao aperto no orçamento era obrigado a usar aquelas horríveis latas. Muito solidário, o General garantiu ao comandante que, dentro de alguns dias, cuidaria ele próprio de solucionar aquela situação humilhante. E cumpriu a promessa.

Não se passaram nem 15 dias e o Cassino dos Oficiais recebeu duas dúzias de bacias de alumínio belas e reluzentes…

Quer mais uma? Lá vai.

Esta teria acontecido quando ficou decidido que o quartel faria três meses inteiros de manobras no Vale do Ribeira.

De partida para o exercício, um soldado muito ciumento, resolveu colocar um cinto de castidade na esposa, temendo ser traído.

– Não é justo. Posso morrer em algum acidente e minha mulher é muito jovem. Já sei: darei a chave do cinto ao meu amigo de confiança e, se algo acontecer comigo, ele poderá soltá-la. No dia seguinte ele já estava acomodado no veículo que conduziria sua bateria até a região do Ribeira quando viu que o amigo de confiança se aproximou correndo e esbaforido atrás da viatura. Surpreso, quis saber, gritando:

– Que aconteceu, amigo, o que houve?

– Companheiro! – Disse o outro, totalmente sem fôlego – Você deixou a chave errada!