Janeiro Branco: a importância da saúde mental no ambiente de trabalho

Dra. Bianca Pelinson explica que o ambiente organizacional pode afetar de forma positiva ou negativa a saúde mental do colaborador (Foto: Arquivo pessoal)

O “Janeiro Branco” é uma campanha criada e promovida por psicólogos, que tem como objetivo estimular a população a discutir a importância do cuidado com a saúde mental em busca de mais felicidade e qualidade de vida. O mês de janeiro foi escolhido por simbolizar culturalmente um período de renovação de esperanças e de novos projetos de vida, já que em todo fim de ano avaliamos o que passamos e planejamos o que está por vir.

A campanha “Janeiro Branco” propõe o debate e a elaboração de ações em benefício de nosso bem-estar, com a pretensão de difundir um conceito ampliado de saúde mental e saúde emocional, como um estado de equilíbrio. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 12 milhões de brasileiros sofrem de depressão. O potencial de alcance da doença, entretanto, é muito maior. A pesquisa diz que de 20% a 25% da população tem propensão a se tornar depressiva. 

Quando o assunto é ansiedade, a doença atinge cerca de 20 milhões de brasileiros, ou 9,3% da população. O resultado mais sério desses males, o suicídio, já é considerado pelo Ministério da Saúde como a quarta principal causa de morte entre os jovens.

De acordo com dados da Previdência Social, em 2017, a depressão foi a décima causa de afastamentos do trabalho, o que refletiu em mais de 43 mil auxílios-doença. Uma pesquisa da Isma-BR dá uma pista sobre a causa desse número elevado de afastamentos: cerca de 70% da população ativa brasileira sofre com excesso de estresse. 

A mesma instituição apresentou uma pesquisa que diz que 30% das pessoas economicamente ativas já apresentaram quadros de Burnout [distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho].

Os afastamentos e adoecimento da força de trabalho representam um grande problema para os negócios. As empresas que não possuem ações voltadas para a saúde mental acabam corroborando com um quadro que prejudica seu próprio faturamento. 

Colaboradores estressados, ansiosos ou com outras doenças mentais apresentam desempenho abaixo da média, o que, além de diminuir o rendimento da empresa, acaba por sobrecarregar outros profissionais, aumentando as chances de estes também desenvolverem transtornos mentais por conta do aumento de pressão, sobrecarga e pouca valorização.

Nesta semana, o Periscópio conversou com a psicóloga Dra. Bianca Pelinson, que destacou que não é possível limitar a importância da saúde mental em apenas um sentido. Assim como a definição de saúde não se resume apenas a ausência de doença, a definição de saúde mental também.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) entende a saúde mental como um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, é capaz de lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade.

“É importante levar em consideração que a doença mental é multifatorial, podendo ser causada por uma interação complexa de fatores como genética, biológicos, psicológicos e ambientais ]incluindo fatores sociais e culturais], destaca a profissional que explica ainda que o tratamento varia de acordo com o tipo de transtorno mental [depressão, transtorno de ansiedade, esquizofrenia, TDAH, transtorno obsessivo compulsivo, entre outros]”, explica. 

A psicóloga explana que é possível afirmar que o trabalho formal ou informal faz parte do contexto de saúde mental por possibilitar conforto financeiro, relações interpessoais e contribuição para a comunidade. “Ou seja, o ambiente organizacional pode afetar de forma positiva ou negativa a saúde mental do colaborador”.

“Um local em que possam existir situações de jornadas de trabalho exaustivas, metas abusivas e surreais, eventos traumáticos, atividades estressantes e discriminação tem a tendência a ser nocivo para quem está inserido nele. O adoecimento do funcionário impacta diretamente em sua própria vida pessoal e nos resultados da empresa. Por isso a importância da prevenção e promoção de saúde mental no ambiente organizacional”, prossegue Bianca.

“Algumas empresas acreditam que políticas de prevenção e promoção são muito custosas. Porém, empresas que atuam com essas políticas registram menos casos de abstenção ou afastamento do funcionário, o que impacta de forma direta e positiva para o trabalhador e para a empresa, inclusive benefícios financeiros”, destaca a profissional.

Ainda segundo a psicóloga, as políticas de prevenção e promoção podem ser encontradas em práticas que ofereçam suporte psicológico ao funcionário, participação em tomadas de decisões [pertinentes a cada setor], incentivo ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e estratégias de recompensa sobre a contribuição dos funcionários.

“A importância da busca por um profissional qualificado que faça o acolhimento adequado e a escuta ativa é imprescindível para o início de qualquer tratamento e acompanhamento”, aponta Bianca. Um dos tratamentos que vem sendo muito procurados, principalmente a partir da pandemia, é a psicoterapia.

“Ela auxilia o indivíduo no processo de autoconhecimento e na solução de conflitos. Nesse processo o paciente é capaz de olhar para si e refletir sobre as razões e os sentidos que dá para seus pensamentos e comportamentos em determinados momentos de sua vida, sendo mais assertivo em suas atitudes”, diz a psicóloga.

 “O objetivo da psicoterapia é de que a pessoa seja capaz de escrever e se responsabilizar por sua própria história de maneira mais saudável, trabalhando também a aceitação de si mesmo e de sua vida”, encerra a profissional.