Magistério: a chave para o futuro ameaçada pela modernidade
Por André Guida
Pode se dizer que a transmissão de conhecimento foi uma das mais relevantes metodologias encontradas. Contudo, tal tradição está fortemente ameaçada.Em pesquisa realizada pelo SEMESP (Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação de São Paulo), em 2022, constata-se que para 2040 existe uma previsão de falta de aproximadamente 235.000 professores na rede básica de ensino no Brasil, e tal “apagão” se dá (ou dará) a partir de 3 pontos: o desinteresse crescente dos jovens pela profissão, a aposentadoria dos professores mais velhos que não serão repostos e o abandono precoce da profissão.
A situação do ensino no Brasil nunca foi das mais otimistas. Mesmo após a implantação do sistema de educação pública universal, até hoje estigmas de desigualdade são latentes: escolas privadas com modelos preparatórios completos e que dão acesso às melhores universidades, enquanto o sistema público permanece precarizado, sub-financiado e sem preocupação real com seus estudantes. Situação que se reflete também na taxa de evasão escolar brasileira que, em pesquisa do IBGE, aumentou em 171% em comparação com o ano de 2019, apontando 2 milhões de jovens brasileiros que estão fora da rede de ensino por evasão escolar.
Torna-se assim claro como entrar para o magistério seja então, desafiador: uma profissão fortemente ligada ao campo dos afetos e da empatia, em um ambiente precário e desestimulante, onde o mecanismo de estudo e ensino apresentado nos cursos de licenciatura é, de fato, ignorado. Ao falarmos com a próxima geração de professores temos, também, uma esperança relegada aos concursos públicos.
Vitor Perdomo é estudante do Instituto Federal do Estado de São Paulo (IFSP) matriculado no curso de Licenciatura em Matemática, e relata uma realidade que, por mais que possa ser limitada, é termômetro para um indicativo nacional: “o clima entre os alunos e professores não é dos melhores. Meu plano é estudar para um concurso público, lecionar para o ensino médio. Tive sorte de ter uma bolsa para o ensino privado no meu ensino médio, era monitor na minha própria turma e recebia um desconto integral. Se não fosse pelo ensino médio privado de qualidade que tive não estaria estudando em uma universidade pública com certeza, e graças ao ensino superior de qualidade vou ter mais facilidade que muitos que só tem a alternativa privada para sua formação e preparação”.
Uma das categorias mais atingidas nas últimas décadas pela recessão econômica do Brasil foi à docência. A média salarial do professor no Brasil tem a pior taxa entre 40 países, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico) de 2021. Não é de se surpreender que o magistério tenha perdido tantos soldados de suas filas e que, em um país que não se esforça em valorizar seu profissional, seu conhecimento e seu ambiente de trabalho.