Michel Temer: a ligação do novo presidente com Itu

Mantenedora da FADITU, Maria Lúcia Caselli destaca as qualidades do substituto de Dilma e comenta a amizade que possui com o novo líder do Executivo nacional

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Lucas Gandia e Ana Luísa Tomba

“Ele ainda vai ser presidente da República”. É com saudosismo e bom humor que a doutora em Direito Maria Lúcia Almeida de Marins e Dias Caselli se recorda da frase dita por seu marido em meados de 1986. A profecia revela não apenas o dom visionário de Sebastião Dias Caselli, como também confirma a antiga ligação que Michel Temer (PMDB) possui com a cidade de Itu.

Apontado como discreto e bom negociador, Temer assumiu o cargo de presidente em exercício na tarde da última quinta-feira (12), após o Senado Federal aprovar a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT) – que permanecerá afastada do mandato por até 180 dias, até o julgamento final dos senadores.

A ligação entre Temer e Maria Lúcia, primeira mulher a ocupar uma cadeira no Legislativo ituano, se deve – em grande parte – à paixão comum que ambos possuem pela carreira jurídica. E foi na Faculdade de Direito de Itu, onde o atual presidente da República chegou a ocupar o cargo de diretor entre 1977 e 1980, que os dois reforçaram os laços profissionais e pessoais.

No dia em que Temer assumiu a presidência, o “Periscópio” conversou com a mantenedora da Faditu sobre o futuro do Brasil. Primeira mulher a militar na advocacia ituana e uma das principais responsáveis pela criação da subsecção da OAB de Itu, Maria Lúcia Caselli também conta detalhes da personalidade do novo presidente em exercício.

Início
“Estudei Direito na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e fui contemporânea de um irmão do Dr. Michel, chamado Fuede Temer. Eu tinha muita amizade com a então namorada dele – e com quem depois se casou -, Maria da Glória Ataliba Nogueira. Então os Temer lá de Tietê já faziam parte do meu relacionamento. Vários anos depois, Dr. Michel também cursou a mesma faculdade.

Quando ele veio lecionar na FADITU, ele foi trazido exatamente pelo irmão da Maria da Glória, Geraldo Taliba, um professor de Direito Constitucional da PUC e da USP. O Dr. Michel começou na Faculdade de Direito de Itu lecionando Direito Constitucional, e logo já se revelou um professor excelente. Ele vinha aqui toda semana. Com o tempo, em virtude desse relacionamento que eu já tinha com o Fuede e sua esposa, a gente se aproximou mais.

O Dr. Michel gosta muito de Itu. Inclusive ele costumava vir aqui mesmo quando não tinha que dar aula, porque ele é freguês assíduo do Bar do Alemão. Ele vinha de vez em quando com a família, depois chegava aqui em casa para tomar um café e bater papo. E com isso ele se ligou muito ao meu marido. Então, nós passamos a acompanhar mais a carreira do Dr. Michel”.

FADITU
“Ele chegou a ser Diretor da FADITU e sempre foi uma pessoa de fácil trato, bom ouvinte. É ruim falar com uma pessoa que nem nos deixa concluir e quer falar sozinho. Ele prestava muita atenção no que se falava – e com isso nós despertamos uma boa amizade.

Depois, ele começou a ocupar alguns cargos importantes. Quando ele foi Procurador Geral do Estado, nós estivemos presentes na posse – e ele não deixou a direção da FADITU por causa disso. Quando ele foi Secretário da Segurança do governador Franco Montoro, nós também estávamos presentes na posse. Quando ele defendeu a tese de Doutorado, na PUC de São Paulo, nós também estávamos presentes.

Dr. Michel sempre fez da palavra ‘temperança’ um princípio de vida. Ele é cauteloso, muito paciente, bom ouvinte – e fez disso uma maneira de viver”.

Carreira política
“Dr. Michel chegou até a consultar meu marido sobre o que achava de ele entrar para a política. Sebastião falou: ‘você tem um esquema ideal para ser político, Michel, porque você leva jeito, você trata todo mundo bem. A gente manda aluno para diretoria, e o aluno sai abraçado com você! Você tem tudo para ser político. Vai em frente’.

Ele se candidatou a Deputado Federal e foi até constituinte de 1988. Foi muito importante a presença dele na Constituição de 1988 para nós, advogados. E agora eu falo como profissional de Direito, porque ele é o autor do artigo 133 da Constituição, que diz que o advogado é indispensável à administração da Justiça. Até então havia essas prerrogativas em relação a juiz, promotor. Mas ninguém tinha institucionalizado a profissão do advogado. Ele é muito bem quisto pela Ordem dos Advogados do Brasil, porque todo mundo sabe que essa proposta é dele.

Ele sempre teve várias iniciativas que davam grande prestígio. Foi um bom Deputado por vários mandatos e foi Presidente da Câmara, sucessivamente. E meu marido sempre falava: ‘Maria Lúcia, você escreva: o Michel ainda vai ser presidente da República’.

Nós não queríamos que chegasse ao cargo nessa circunstância tão difícil para o país. Mas meu marido teve esse prognóstico que agora se está cumprindo. Acredito que o país está em boas mãos também por causa disso”.

Amizade
“Dr. Michel não esquece os amigos. Eu falo isso de causa própria. Em uma ocasião, eu e meu marido estávamos em São Paulo, e Temer telefonou para o nosso apartamento para dizer que estava assumindo pela primeira vez a Presidência da República. Se eu não me engano, foi no governo do Fernando Henrique Cardoso, quando ele era presidente da Câmara, e tanto o presidente quanto o vice iam viajar. Ele telefonou para o meu marido e ainda brincou: ‘Aquilo que você falou, eu acho que está certo, Caselli. Você não quer vir tomar um café comigo aqui no Palácio?’.

Ele inclusive veio à missa de sétimo dia do meu marido, em Itu. Nós temos um relacionamento gostoso. Eu vinha encontrando com o Michel, normalmente, duas vezes ao ano. Ele nunca recusou os convites para dar aula na FADITU. Nós arrumávamos a agenda conforme a disponibilidade dele; e ele sempre adorou lecionar aqui. Ele até disse uma vez: ‘o dia que eu deixar a política, eu quero voltar a ser professor em Itu’.

Eu também o via no encontro anual da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, realizado sempre no dia 11 de agosto. A gente até atrasava o almoço para esperar o vice-presidente chegar, porque fazíamos questão de esperar o Dr. Michel, que sempre acaba fazendo um discurso”.

Impeachment
“Eu sei bem como começou essa petição pedindo o impeachment da Dilma, feita por Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. Foi exatamente em 11 de agosto do ano passado, nessa confraternização dos antigos alunos da Faculdade de Direito de São Paulo. Mas Dr. Michel não estava presente, então não há como dizerem que foi um golpe planejado por ele.

Janaína se aproximou da minha mesa e contou ao Almino Afonso o que eles pretendiam fazer. Houve até um discurso e uma discussão para saber se as pessoas concordavam ou não com o impeachment, mas Michel Temer não estava lá.

O que nós mais lamentamos é que a presidente Dilma não aproveitou um homem desse quilate, constitucionalista, ponderado, agindo sempre com moderação. Ela não se louvou da pessoa do Dr. Temer para ter uma orientação política para essas coisas todas. Ela não sabe o que perdeu… Então deu no que deu”.

Futuro
“Acho que, lamentavelmente, a situação – que agora vai virar uma oposição ferrenha – vai querer atrapalhar demais, porque o fato de estarem encarando tudo como golpe já indica isso. Eles não estão conformados com o que aconteceu. Esse período de confirmação do impeachment da presidente vai ser muito difícil, com movimento de rua, principalmente contrária à presença do vice na presidência. Até porque ele vai ter que anunciar medidas de impacto para resolver.

Nesse processo todo, nossos representantes políticos não tiveram a importância que o povo teve. O movimento de rua foi muito bom; foi impressionante. O povo precisa continuar mobilizado para combater as outras forças. Não é golpe, porque o quartel está quietinho.

Não sei até que ponto Dr. Michel poderá dar uma atenção especial a Itu. Acho meio difícil, neste primeiro momento do mandato dele. Ele tem que ter uma visão geral do país; tem que consertar tudo que nós estamos precisando. Na parte de Itu, talvez algumas verbas que possam ser solicitadas a ele”.