Bruno, deficiente visual e faixa preta

Por Bianca Porfírio

Bruno se prepara para a prova de faixa preta (Foto: Arquivo pessoal)

O esporte tem sido um fator importante na inclusão social, pois, além de exercitar o corpo, também desenvolve a mente e a convivência em grupo, obtendo resultados significantes na vida de quem pratica. Bruno Rodrigues, deficiente visual, treina taekwondo há 9 anos e é um exemplo desta realidade.

Bruno mora em Porto Feliz e vem de ônibus para treinar na cidade de Itu. Iniciou sua carreira no taekwondo em um projeto esportivo do Instituto Santa Luzia, entidade que atende deficientes visuais. Pegou gosto pelo esporte e deu continuidade na Academia Taekwondo Itu, onde se formou faixa preta no ano de 2020, e treina até os dias de hoje.

“O taekwondo mudou minha vida. Me ajudou nos reflexos. Com a prática da arte marcial, meus sentidos ficaram mais apurados, você descobre que não tinha antes uma noção do seu corpo e com o taekwondo você aprende. É como se você descobrisse seu corpo pela segunda vez”, comenta Bruno.

João Lucas, formado em Educação Física e com Pós-graduação em neuropsicopedagogia, comenta sobre como a adaptação das aulas pode interferir no processo de desenvolvimento dos alunos. “As aulas são todas adaptadas conforme as necessidades de cada indivíduo. O principal objetivo é fazer com que eles conquistem a sua independência, que sejam capazes de realizar atividades simples do dia a dia. Isso faz com que eles percebam que suas limitações não os impedem de fazer as atividades, mas, sim, de rever as possibilidades que podem ser feitas”.      

E complementa: “O esporte é o agente mais utilizado porque possuí regras as quais os inserem no meio de todos, fazendo com que também sejam instigados, provocados a superar os desafios”.

Inclusão

A inclusão de pessoas com deficiência passou por diversos processos até conquistar as políticas públicas de incentivo ao esporte que temos hoje, o que favoreceu também para que mais pessoas tivessem a oportunidade de ingressar no mundo do esporte, abrindo caminhos e possibilidades aos praticantes com deficiência, seja na procura de qualidade de vida ou no investimento em competições.

A adesão do esporte adaptado é notória quando presenciamos os campeonatos paralímpicos, como é o caso do destaque que o parataekwondo obteve na Paralimpíada 2020, em Tóquio, conquistando ouro por Nathan Torquato, prata por Débora Menezes e bronze por Silvana Fernandes.

Bruno Rodrigues afirma que sempre foi muito bem recebido no esporte. “Não me tratavam como deficiente, mas como um praticante, para mim isso foi incrível. Já sofri bullying na escola pois usava óculos, e começar a ser tratado como alguém capaz fez toda diferença”. Ele reflete: “Mas a vida é assim, assumir os riscos e ter determinação para conseguir aquilo que almeja.”

Em dezembro de 2020, Bruno alcançou um grande sonho, o de se tornar faixa preta. “Meu objetivo era se tornar faixa preta, com muito treino e dedicação. Eu não queria me tornar faixa preta pra provar para os outros que eu conseguia, mas eu queria provar para mim mesmo: ‘– Bruno, você consegue’, eu dizia pra mim mesmo”, finaliza.

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