Afrodite

Impressionante a riqueza de monumentos arqueológicos da Turquia, bem como a beleza do país e a receptividade de sua população. E, sobre isso, guardo uma memória inesquecível.

No meu estilo aventureiro de viajar, saí sozinha do litoral turco na busca do templo arqueológico de Afrodite, deusa da beleza e do amor, na que foi a cidade de Afrodísias, fora da rota de maior visitação turística. Que belas paisagens viam-se das janelas do ônibus interurbano no qual eu parecia ser a única turista! Parando no fim de tarde numa cidadezinha próxima do templo, comecei a perguntar sobre locais de hospedagem. Mas quem falava pelo menos um pouco de inglês, dado meu desconhecimento do turco? Trouxeram-me um jovem, que, aliás, viajara no mesmo ônibus: noivo, trabalhava com turismo na região litorânea e viera por uns dias visitar sua família. Ajudou muito.

Simpaticíssimo, levou-me ao único hotel na cidade – local bastante simples, aparentemente direcionado a vendedores ambulantes – convidando-me em seguida para jantar com sua família. Fomos a pé.

Quanto calor humano no modo de receber dessa gente! A vizinhança veio me conhecer, a comida – muito semelhante a um cardápio árabe – foi trazida da cozinha numa grande bandeja redonda que, colocada num suporte, tornou-se a mesa onde todos se serviam.

Alguns singelos presentes após a deliciosa refeição, como um lenço bordado pela dona de casa, tornou ainda mais calorosa a recepção. Depois, o convite: “aceitaria sair conosco para tomar um chá?” “Claro que sim”, respondi feliz.

Qual não foi minha surpresa ao perceber que era a única mulher do grupo que saiu em direção à casa de chá, dado que as demais ficaram em casa! E mais, eu também era a única mulher ao chegarmos ao local, uma tradicional casa de chá numa simpática praça, com mesas e cadeiras distribuídas ao ar livre. Logo me vi como espécie de atração turística: a brasileira em visita a uma cidade tão pequena na Turquia.

No retorno, lembrei-me com alegria das pequenas lembranças que costumo levar em viagens como esta: chaveiros e bijuterias com pedras brasileiras. Saí do carro lotado, pedindo que me esperassem. E segui apressada ao quarto do hotel, onde comecei escarafunchar o fundo da minha mala, não sem antes atirar na cama todos os demais pertences, para conseguir alcançar os brindes para os novos amigos.

Ao me virar, nova surpresa. Lá estavam todos, na entrada do apartamento, observando minha apressada e, tenho de confessar, bagunçada busca pelos presentes. Que enfim distribuí: chaveiros para os homens, brincos para suas esposas e filhas que os esperavam em casa.

Segui só no dia seguinte para Afrodísias, com suas instigantes ruínas históricas, descobertas por um fotojornalista turco há cerca de 60 anos. Um arqueólogo que lá pesquisava concedeu-me preciosas informações, dando mais valor à experiência. De lá eu iria embora, em direção a outros atrativos turísticos desse belo país e, depois, para o Brasil.

Que pena que a barreira do idioma impediu manter contato com esse grupo tão respeitoso e hospitaleiro que conheci nessa viagem anterior à era da internet.

 

Silvia Czapski

Cadeira 04 I Patrono: Benedito Lázaro de Campos