Dia do Gari: profissional fala de trabalho e medo em época de pandemia

Cláudia Maria Apolinário Velasco, 42 anos (Foto: Divulgação)

Nestes tempos de pandemia, é grande o número de profissionais que passaram a trabalhar em regime home office, ou seja, trabalham sem sair de casa. Há, porém, algumas profissões essenciais que exigem o trabalho presencial e, dentre elas, o gari, que diariamente recolhe o lixo produzido pela cidade.

No último domingo (16) foi comemorado o Dia do Gari e o Periscópio manteve contato com a servidora Cláudia Maria Apolinário Velasco, 42 anos, e há quatro trabalhando na empresa EPPO. Ela relata como é trabalhar durante a pandemia.

“A gente tenta se proteger de todas as maneiras, porque no nosso serviço ficamos muito expostas. Eu sou muito cuidadosa comigo em com os colegas de trabalho. Estou sempre pedindo para que eles não tirem a máscara, mas é complicado. Por mais que a gente tome cuidado, a gente não sabe o que está por vir”, conta.

Sobre seus medos e problemas, Cláudia afirma que “meu medo é contrair o vírus. A gente está exposta ao tempo, está nas ruas todos os dias, mas aqui nós recebemos muitas orientações pelos líderes e pela própria EPPO, que orienta muito. Tem a Medicina do Trabalho que sempre nos lembra dos cuidados com  máscara, higienização das mãos”.

Seu medo, também, é contaminar a família. “A gente fica exposta, sujeito a levar pra família, para uma pessoa de mais idade na casa, filhos… Meu medo é grande, não vou mentir. Pra falar a palavra correta, é pânico. Mas a fé é tudo para o ser humano e isso nos ajuda a amenizar”, relata.

A pequena Alice, que anima pessoas como Cláudia a levantar diariamente para trabalhar como gari (Foto: Divulgação)

Cláudia diz como a população reage ao seu trabalho que, embora humilde, é de tamanha importância. “Algumas pessoas são muito gentis, a gente recebe carinho e atenção. Final de ano foi ótimo, na Vila Nova a gente ganhou panetone, lanche da tarde, e eu acho que esse é o lado bom do trabalho da gente. As crianças adoras a gente, falam ‘tia do lixo’, aí as mães vem e falam ‘não é tia do lixo’, elas estão varrendo pra manter limpo… e esse é o carinho que a gente recebe e fica grato”.

Conforme o relato de Cláudia, “a parte ruim é que não são todos que vêem a gente com bons olhos. Negam água, um banheiro, que a gente precisa muito por trabalhar na rua. Mas depois você recebe o sorriso de uma criança, que te chama ‘a tia do lixo’, então essa acaba sendo a parte boa da gente sair de casa todos os dias. A própria EPPO nos anima a sair de casa todos os dias e falar ‘hoje eu vou pro trabalho, vou manter a nossa cidade limpa’ e a gente sabe que precisa manter tudo limpo. A empresa colabora bastante com o trabalho da gente”, prossegue.

Perguntada se há alguma experiência que gostaria de compartilhar, a profissional disse que “há uma atitude do bem que aconteceu com a Alice, uma menina muito carinhosa, atenciosa, que me esperava no portão de sua casa e me chamava de ‘tia Cláudia’ e ela me presenteou um dia. Eu sinto falta dela, e queria dizer que ‘a tia Cláudia está te mandando um abraço, está morrendo de saudades’. Essa é uma atitude do bem, que deixa saudades, no sorriso de uma criança. No final do dia, tudo se resume no sorriso de uma criança”.

Colaboraram Alex Moura, Ana Caroline e Gislaine Nereu.