Espaço Acadil: Um ser paradoxal

Vilma Pavão Folino
Cadeira nº 35 I Patrono Maria José de Toledo Piza

É inegável a importância das descobertas arqueológicas, por acrescentarem novos dados às civilizações antigas, atualizando constantemente a História. No final de 2021, escavações apontaram no Curdistão resquícios de uma cidade da Mesopotâmia datada de 4000 anos. Recentemente foram encontrados 250 sarcófagos, 150 estátuas de bronze e a presença de queijos, em uma necrópole ao sul das pirâmides de Gizé, no Egito. Em uma caverna próxima a Tel Aviv, cerâmicas do período da grande expansão egípcia do século XIII a.C, Idade do Bronze,deixaram nosso planeta deslumbrado. Na Espanha, perto da fronteira com Portugal, a descoberta do “Stonehenge Ibérico”, um complexo de pedras de diversos tamanhos, formatos e posições com mais de 500 menires e dólmens e dois círculos do período neolítico, empolgou e desafiou os arqueólogos: um enigma possivelmente de 7500 anos.Mas, nem sempre as descobertas são resultado de escavações em sítios arqueológicos, e um exemplo significativo é o “Stonehenge Espanhol”, outro surpreendente conjunto megalítico do período neolítico, que emergiu no leito do Rio Tajo, na região espanhola de Cáceres, por ocasião da intensa seca que castigou a Europa neste último verão.

Enquanto o mundo fica fascinado com as novas descobertas, grandes marcos culturais continuam sendo destruídos. Na Síria, um edifício de 1900 anos, um templo fenício, mosteiros do século IV, entre outros, foram destroçados em Palmira e um imenso dano também aconteceu em Alepo, cidade com 5000 anos. Hatra, cidade patrimônio UNESCO, e uma capital assíria do século VII a.C., foram 70% dizimadas, através da “limpeza cultural” realizada pelo ISIS, no Iraque. Na Ucrânia, bombardeios não pouparam museus, escolas, teatros e mais de 110 igrejas – católicas, protestantes, sinagogas – e as ortodoxas tradicionais com suas cúpulas octogonais, bulbosas.

Depois das guerras, fortunas são investidas na reconstrução e na restauração dos escombros. Às vezes séculos são necessários para o reconhecimento da importância de bens culturais materiais e avaliação deque podem, também,representar fomento ao turismo. É o caso da Turquia, que por muito tempo não valorizou as construções gregas, lígias, frígias, troianas, romanas e as do protocristianismo, da região de Anatólia, transformadas em ruínas devido a um terremoto, e à própria invasão turca ao território. Com a pilhagem posterior, restaram apenas os alicerces.Hoje o turismo representa o terceiro setor da economia otomana.  Pisos de vidro transitável foram colocados sobre os alicerces de muitos templos e outras obras helenísticas e romanas. Somente a Biblioteca de Celso, em Éfeso, exemplo ímpar da arquitetura pública romana, tem sua fachada frontal com magníficas colunas e nichos para estátuas, graças à reconstrução realizada nas décadas 1960 -70.

A fúria das guerras gera a destruição e o tempo pós-guerra a restauração… E este é apenas um dos infindáveis e relevantes aspectos da característica paradoxal do ser humano.

2 comentários em “Espaço Acadil: Um ser paradoxal

  • 30/11/2022 em 09:03
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    Parabéns Vilma, a conscientização para a preservação das raízes e cultura dos povos
    é extremamente importante. Para entendermos quem somos, temos que saber de onde viemos.

  • 03/12/2022 em 10:07
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    É mesmo lamentável, que até hoje não saibamos valorizar tudo que se relaciona com o passado….

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