Medalha de ouro?

Por Lucas Gandia

Com origem ligada a grandes festivais religiosos celebrados na Grécia Antiga, ao longo dos anos os Jogos Olímpicos se tornaram símbolo da união dos povos espalhados pelo globo. Enquanto atletas do mundo todo se reúnem para disputar o primeiro lugar de cada modalidade, ainda sobra aos espectadores a oportunidade de acompanhar a emoção única que só o esporte pode proporcionar. No Brasil, no entanto, o que deveria unir, infelizmente, também parecer estar afastando – pelo menos até o momento. Será que as coisas mudarão nos próximos dias?

Símbolo dos Jogos, a tocha olímpica tem percorrido o país todo há cerca de dois meses, através das mãos de atletas, jornalistas, artistas, empresários e outras personalidades que, de fato, não possuem qualquer ligação com o movimento esportivo – incluindo blogueiros, youtubers e até mesmos ex-BBB’s. Essa é só uma das polêmicas que tem acalorado o debate nacional.

Logo que desembarcou no Brasil, em Brasília (DF), no dia 3 de maio, a tocha já foi recebida com protestos de cunho político. Entre favoráveis e contrários ao impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), manifestantes chamaram atenção da imprensa internacional para o caos brasileiro.

De lá pra cá, casos – dos mais aos menos graves – ganharam repercussão na mídia e nas redes sociais. O que falar da onça do Exército Juma, abatida durante a passagem da tocha por Manaus (AM)? E da suspensão das cirurgias eletivas por seis dias no Hospital Municipal Padre Germano Lauck, em Foz do Iguaçu (PR)?

Para estimular ainda mais o debate sobre os Jogos Rio 2016, brasileiros de diferentes cidades iniciaram um movimento para apagar o fogo olímpico. Baseados no argumento de que as verbas investidas nas Olimpíadas deveriam ser destinadas a outras demandas do país, manifestantes até levantaram pontos importantes, mas, na verdade, parecem estar apenas colaborando para que a imagem do país fique ainda mais suja no noticiário internacional.

Na última quinta-feira (21), Itu registrou a passagem da aguardada tocha em seu território, sendo um dos trezentos e vinte e nove municípios brasileiros agraciados pelo fogo olímpico. Por aqui, felizmente, nenhuma polêmica. Mas os ituanos não deixaram de notar que as ruas e avenidas receberam um cuidado “especial” às vésperas do evento.

Nos últimos dias, a cidade assistiu a podas de árvores, recapeamento de ruas, pinturas de guias e faixas de pedestres, trocas de lâmpadas e muitos outros investimentos – que, convenhamos, são clamados pelos munícipes o tempo todo.

Curiosamente, talvez este seja o maior legado das Olimpíadas para a nossa pacata Itu. Diante disso tudo, fica o questionamento: foi necessário que a tocha viajasse da Grécia para cá para que os governantes decidissem realizar as melhorias no município?

Polêmicas à parte, não podemos nos esquecer de que os Jogos são mais do que uma oportunidade para a transformação pessoal dos atletas, uma vez que o esporte também pode ser uma importante ferramenta da paz mundial. Inspirada pela tradição criada para os Jogos Olímpicos da Antiguidade, quando guerras eram suspensas para permitir a viagem dos atletas à cidade grega de Olímpia, a trégua Olímpica hoje integra a agenda da Assembleia Geral das Nações Unidas a cada dois anos, intervindo pela paz e pelo esporte às vésperas de cada nova edição do evento esportivo.

Além disso, o fato de o nosso país sediar as Olimpíadas deve, sim, ser comemorado, sobretudo pelas novas gerações, que ainda tiveram a sorte de presenciar a Copa do Mundo em 2014. Sabe-se lá quando – e se – os brasileiros terão uma nova chance dessas.

É fato que o cenário nacional não está no seu melhor momento. Aliás, parece que o fogo olímpico passou por aqui justamente no período mais conturbado da história recente do país. Mas, no meio de um Brasil dividido, quem sabe o esporte consiga promover o que nenhum líder ainda foi capaz: união. Será que celebraremos o ouro nesta modalidade?