Zetti: “Não entendo por que não joguei, não durmo até hoje”

Por Gabriel Muller Piccinin

Zetti deu entrevista para Gabriel Muller Piccinin no CT do São Paulo Futebol Clube em Cotia (Foto: Jornalismo CEUNSP)

Armelino Donizetti Quagliato, o Zetti, é um dos nomes que estão marcados na história da Seleção Brasileira em razão da conquista da Copa do Mundo de 1994. O goleiro, que viveu grande fase nos anos de 1992 e 1993 defendendo o São Paulo, foi um dos escolhidos por Carlos Alberto Parreira, treinador daquele ano da Seleção. Porém, até hoje, Zetti se questiona por que não foi o titular.

Em entrevista exclusiva para a equipe do Jornalismo CEUNSP, em Cotia/SP, onde está o centro de treinamento do São Paulo Futebol Clube, Zetti comentou das dificuldades na disputa daquele mundial em que a temperatura e gramados trouxeram fatores novos para os jogos.

“Foi uma Copa diferente, os jogos eram às 11h30 ou meio-dia, o calor era intenso. Além disso, os gramados eram apropriados para jogos de futebol americano, mas no fim de tudo foi muito bem programado pela nossa comissão técnica”, afirma o ex-goleiro, hoje coordenador de goleiros das categorias de base do São Paulo.

A seleção vivia um jejum de títulos do torneio que já durava 24 anos, por isso, na visão do ex-goleiro, a presença de jogadores com bagagem da Copa de 1990 foi fundamental para o grupo, assim como a relação mais ativa com o torcedor também foi importante.

“Nosso grupo era de muita qualidade técnica, tínhamos um elenco muito bom, no gol tinha eu, Taffarel e Gilmar, Jorginho, Cafú, Branco, Leonardo, Dunga, Raí, no ataque tinha ainda Bebeto e Romário. No banco tinha Viola, Muller… Era um grupo unido e que sabia o que queria, então acho que isso fez a diferença, além de jogadores que já tinham a experiência de 1990. Então já sabíamos que alguns erros que não podiam acontecer. A relação com o torcedor era mais ativa do que hoje, não se tinha celular, não se tinha tantas informações, a imprensa falava diretamente com a comissão, com o atleta, então essa informação não era tão fria como é hoje”.

Zetti também falou do contexto que o Brasil passava na época, com a morte de um ídolo que era Ayrton Senna pouco tempo antes da Copa, e como o brasileiro sentiu a perda de um ídolo como era o piloto. “O Ayrton Senna morreu faltando um mês para a Copa, portanto tinha uma cobrança muito grande pela falta de um ídolo. Então nós fomos nos apegando muito aos detalhes disso tudo para chegar na Copa do Mundo e fazer o melhor. Isso eu acho que ajudou para que nós tirássemos o melhor de cada um”, relata.

Taffarel foi titular de Parreira no Mundial, mesmo enfrentando a falta de ritmo enquanto atuava na Itália. Por outro lado, Zetti vivia seu melhor momento. O ex-goleiro comentou sobre a escolha do treinador. “Nos anos de 1992 e 1993 eu vivi o meu auge, pelo São Paulo ganhei dois Mundiais, duas Libertadores e dois Paulistas. Era o meu grande momento. Até por isso eu acredito que merecia ser testado nas eliminatórias de 1993. Confesso que não entendo por que não joguei. Não durmo até hoje. Entretanto o Taffarel jogou e foi muito bem, qualquer um que jogasse seríamos campeões”.

Falando sobre a Copa do Mundo de 2022, o tetracampeão deu sua opinião sobre a equipe de Tite. “A seleção brasileira sempre será a favorita, mas nós vemos isso desde 2002, né? No Brasil favorita, na Rússia favorita… Então eu vejo que tem que jogar, jogar mais! Tem mostrado nos amistosos uma condição muito boa, mas eu penso que não teve grandes adversários, talvez a Argentina, mas apenas no futebol sul-americano. Agora é o grande teste, são sete jogos, o Brasil tem que saber jogar, pensar antes na primeira fase nesses três jogos que valem a vida. Mesmo assim o Brasil sempre será favorito. Além disso, o Brasil hoje depende muito do Neymar, eu acho que precisa de outros jogadores que façam a diferença e não ficar só preocupado com o Neymar, precisamos de outras opções. Acho que isso vai determinar a maneira da seleção atuar até o final da Copa”.

Falando na posição que conhece muito bem, o ex-goleiro também deu sua opinião sobre os prováveis goleiros do Brasil para o mundial e se poderia pintar alguma surpresa na convocação final. Vale ressaltar que a entrevista foi concedida antes do anúncio final de Tite, com os 26 convocados.

“Eu acho que não vai ter surpresas, serão esses três, Alisson, Ederson e Weverton, mas com certeza tem outros nomes, como o Santos, do Flamengo, um goleiro que gosto muito, é seguro. O Cássio, do Corinthians, que cresce em jogos decisivos, mas não conseguiu dar sequência no ano passado e está algum tempo ausente da seleção. Contudo, acredito que serão esses três atuais mesmo, que têm a confiança do treinador. Eu acredito no Alisson como titular, o Ederson brigando mais diretamente pela posição e o Weverton, que atua no Brasil, muito bom goleiro e tem um destaque diferente, joga um campeonato muito difícil, como é o Campeonato Brasileiro.”