Zico Gandra e o Tcheco

J.C. Arruda

As pessoas me procuram para colaborar com esta coluna e me pedem a publicação de causos e acontecimentos dos quais elas participaram ou ouviram falar. Alguns verdadeiros, outros nem tanto. Outros me escrevem contando piadas, as quais eu tento romancear.

No supermercado Paulistão, encontro uma das filhas do inesquecível Zico Gandra o qual, por décadas, foi o responsável pelo Estouro do Judas no Sábado de Aleluia. Ela fala o que eu já sabia: que Zico, na intimidade, era bem humorado e gostava de “aprontar” para as pessoas.

Na casa dele, tinha uma empregada que, após usar o fogão sempre esquecia de fechar o registro de gás do botijão. E o Zico sempre avisando: não faça isso que qualquer vazamento de gás pode resultar na maior explosão.

E de bombas, Zico entendia. Porque ele mesmo as confeccionava como grande fogueteiro que sempre foi. Quem não se recorda das super-bombas que explodiam no Estouro do Judas? Mas, mesmo sendo um especialista, sabia respeitar o manuseio da pólvora porque conhecia os acidentes mortais que costumavam ameaçar os fogueteiros ou mesmo os usuários de foguetes.

Até que certo dia, quando Jurema (era o nome da empregada) chegou pela manhã e foi acender o fogão para preparar o café. O que se ouviu foi uma explosão ensurdecedora, logo depois que ela riscou o fósforo. A coitada entrou em pânico no meio daquela fumaceira e só pensava em chegar rapidamente até o registro do botijão que havia explodido. Ou melhor: havia explodido dentro da cabeça dela porque, na verdade, o que explodiu mesmo foi uma bomba que Zico havia colocado atrás da porta, furtivamente. Jurema só percebeu que era uma “pegadinha” quando viu todos da casa se aproximando e rindo.

Por via das dúvidas, nunca mais se esqueceu de fechar o registro do gás…

Outra historinha, quem me contou foi o Sidnei, um daqueles coroas que ficam ali no banco do Tonilu, relembrando o passado e falando do tema preferido deles, ou seja, “No nosso tempo é que as coisas eram boas” quando, na realidade, deveriam de pensar e falar que tudo era melhor quando eram jovens, isso sim.

Mas o Sidnei diz que leu a crônica da semana passada, quando contei episódios de dois barbeiros da cidade. Ele me cobrou a publicação de um outro causo que aconteceu com outro barbeiro, este conhecido por “Tcheco”, pois o sobrenome dele era difícil de pronunciar. Algo como Tzaechener. O salão do Tcheco era na Rua Santana, vizinho da Casa de Frios do Dene.

Estava o nosso inesquecível barbeiro no salão, quando chegou um homem trazendo um menino pelas mãos. Falou para o menino sentar e esperar enquanto ia ser atendido. Explicou direitinho para o Tcheco como queria o corte, e este, profissional exímio como sempre foi, cumpriu corretamente a missão. O homem saiu da cadeira, após o Tcheco livrá-lo do avental que se usa para proteger os clientes contra os pelos e foi dizendo: “Ficou ótimo! Agora o senhor corta o cabelo do menino que eu vou comprar o jornal e já volto”.

Novamente, Tcheco deu aquele trato no cabelo do freguês que era um menino mas que, mesmo assim, merecia todo capricho. Terminou o corte e pediu para que o garoto se sentasse para ficar esperando enquanto ia atender um segundo freguês que havia chegado. Depois disso, atendeu outro freguês. Logo a seguir mais outro, até que não se aguentou e chegou para perto do menino, perguntando:

– Seu pai está demorando um pouco demais, não?

E o garoto, surpreso, respondeu:

– Ele não é meu pai, não, moço. Ele me encontrou ai na frente da barbearia e perguntou se eu estava afim de cortar o cabelo de graça…