Doces Barbeiragens

Foi uma festa quando o engenheiro Dr. Zé Carlos Bernardes, o Espigão, meu querido compadre, padrinho do meu primogênito, passou no concurso para trabalhar no DER (Departamento de Estradas de Rodagens) em Itapetininga. Faz mais de 30 anos. Tão logo recebeu o primeiro salário, consolidou o grande sonho da época: comprou um fusca amarelo. Comprou e recebeu o veículo, só que tinha um pequeno problema: ele não sabia dirigir. Esse pequeno obstáculo ele resolveu sem esquentar muito a cabeça. Enquanto frequentava as aulas na auto escola, escalava um amigo para levá-lo e trazê-lo de volta no fusca até Itapetininga. Uma semana eu ia, na outra ia o Nelsinho Fruet, na seguinte ia o Adair Leme e assim como outros amigos.

Logo que tirou a carta, Espiga, todo orgulhoso decretou o fim daquela escravidão. Ele mesmo iria por sí só, dirigindo o carro para trabalhar. No primeiro dia, ficamos todos no Bar Carneiro, aguardando o retorno dele, para ver como havia se saído na primeira viagem. Vaidosamente, contou cada detalhe da aventura, até que a narrativa dele chegou nas proximidades de Tatuí, onde existe uma grande reta. Bem ali ele inventou de ultrapassar uma imensa carreta da Scânia. Seria a primeira ultrapassagem dele. Mas, deixa ele contar como foi:

– “Quando ví aquela retona sem fim, acelerei para ultrapassar a carreta. Não sei porque, a danada também acelerou.

Bem naquele momento, apareceu outro veículo no final da reta, vindo em sentido contrário. Era outra carreta, deduzi logo. Rapidamente, achei melhor reduzir a velocidade e me colocar novamente atrás da primeira carreta. Só que esta também, para facilitar minha ultrapassagem, também reduziu. E a carreta que vinha em sentido contrário, nada de reduzir. Nessas alturas, eu já estava a me agarrar com Nossa Senhora, São Cristovão, São Benedito e um monte de outros santos que nem lembro mais”.

Nesse momento, o Adair que já estava angustiado com a história, apressou: – “E daí Espiga, conta logo. O que aconteceu no final? ”

“Bem – continuou o nosso doutor Engenheiro – Acabamos passando os três ao mesmo tempo, o fusca no meio das duas carretas. Ainda tive a impressão de que no exato momento do cruzamento os dois outros motoristas gritaram comigo. Um falou algo semelhante a “aí, batuta” e outro algo parecido com “vai pescar pacu”. Estava tão nervoso, que nem consegui ouvir direito!

Resolvemos então que a nossa escravidão deveria durar pelo menos mais uns dois meses para que o nosso motorista ganhasse um pouco mais de experiência…

Mas, esses episódios de barbeiragem ao volante não são primazias só de novatos. Diariamente vemos na TV e nos jornais os absurdos cometidos por homens e mulheres no trânsito ocasionando acidentes. Uma hora é por bebedeira, outra hora é por estar usando o celular, outra por falta de atenção ou excesso de velocidade. Tanto assim que as autoridades não se cansam de fazer companhas para aumentar as responsabilidades de todos aqueles que se metem atrás de um volante para dirigir algum veículo. Para alguns mais conscienciosos, essas companhas funcionam, enquanto que para a maioria, infelizmente, tanto faz como tanto fez. Nesta semana recebi uma cartinha de um leitor desta coluna, chamado Eduardo Canavezzi, pedindo a divulgação da mesma. Como gosto de atender sempre que possível, quem me suporta nestas linhas, aqui vai.

Prezado jornalista Arruda e demais integrantes do Periscópio

Gostaria de dividir minha experiência com todos que bebem e dirigem, mesmo assim.

No último sábado à noite não sei quantas cervejas e outras coisas mais que bebi.

Sabendo que não estava legal, fiz algo que nunca havia feito antes.

Deixei meu carro no estacionamento e peguei um ônibus!!!

Resultado: cheguei em casa à salvo, sem nenhum incidente, com ótima sensação do dever cumprido…

Agora, o que me deixou perplexo foi que eu nunca havia dirigido um ônibus na minha vida!

E o pior que eu até agora não sei onde deixei meu carro.