Feiras resistem ao tempo e mantêm a freguesia

Há muito se fala que as feiras livres estão acabando, estão morrendo. Isso, entretanto, não é verdade. Com um público cativo, as feiras sobrevivem e seguem firmes, apesar da concorrência de mercados, supermercados e sacolões.

E engana-se quem pensa que as pessoas vão à feira apenas para comprar frutas e legumes. Há, na verdade, uma gama de produtos comercializados ao ar livre que desfrutam de bom público consumidor.

É o caso, por exemplo, das barracas de roupas de Leandro, 46 anos, e sua esposa Érica. Eles são feirantes há mais de oito anos. “Começou com a minha esposa e depois passei a trabalhar junto. Nossa vida não é fácil. É sol, chuva… mas vamos levando”, afirma ele à reportagem, que esteve esta semana na feira do bairro Vila Nova.

Leandro e a esposa Érica possuem uma barraca de venda de roupas e garantem que vendem bem (Foto: Moura Nápoli)

Com a pandemia, quando o comércio da cidade praticamente parou, Leandro seguiu trabalhando. “Nós, feirantes, continuamos normalmente. Para nós não houve muita diferença. Não sei se para os outros teve”, relata o feirante, cuja barraca agora cresceu e virou duas, sendo uma com roupas femininas e outra masculina.

Fazendo quatro feiras por semana (Vila Nova, Cemitério e duas no Cidade Nova), o comerciante garante ter uma clientela fixa. “O diferencial que temos sobre as lojas é que não precisamos pagar aluguel e funcionários. Assim, podemos vender mais em conta”.

Érica, esposa de Leandro, também diz que “nas lojas, quase todas vendem o mesmo tipo de roupas e aqui muitas pessoas chegam e falam que procuraram algumas peças nas lojas e não encontraram em nenhuma, mas nós temos”.

A barraca de condimentos conta com o diferencial de moer tudo na hora (Foto: Moura Nápoli)

Outra barraca que tem bastante procura e que tem produtos de certa forma diferenciados é a de condimentos e temperos, sob a responsabilidade de Luis Carlos Fernandes dos Santos, 53 anos, paulistano radicado em Indaiatuba. Feirante há mais de 30 anos, está há nove no interior e o trabalho em feira começou com sua mãe.

Luis Carlos sai de Indaiatuba para fazer feira em Itu. Isso compensa? “Sim, compensa. No começo era meio difícil, mas agora já conquistei uma freguesia fixa e venho para Itu nas terças e quintas. A clientela formada é o que nos sustenta, mas tenho também as pessoas que passam, acham minhas mercadorias bonitas, diferentes e isso é bom”, festeja.

O diferencial é o que atrai sua clientela. “Meus produtos são diferenciados dos supermercados, pois moemos na hora, os condimentos e temperos são mais frescos e isso agrada”. Para ele o diferencial é exatamente o fato de ele não vender nada industrializado. “Aqui o cliente escolhe o condimento e nós moemos na hora, na quantidade que o cliente quer e a mercadoria é de melhor qualidade”, garante.

Luis também aposta que as feiras não acabarão. “Desde que comecei falavam que as feiras iriam acabar, mas estamos aqui. Feira é tradição. Às vezes vai minguando, mas a gente precisa ter mercadorias melhores e ganhar a confiança da clientela”, conta.

Uma das bancas que tem bom movimento é a de peixes e frutos do mar (Foto: Moura Nápoli)

Finalmente outra banca que tem bom movimento é a de peixes e frutos do mar.  Sérgio, 53 anos, é gerente da barraca e vem de Salto para fazer três feiras em Itu nas terças, quintas e sábados. “Para mim compensa, pois a distância não é muita”, revela. As barracas de peixes e frutos do mar na qual trabalha são três na verdade e estão presentes em Salto, Itu e Indaiatuba.

Diferente de muitos, Sérgio diz que “quando começou a pandemia, com o fechamento de restaurantes e lanchonetes, nosso movimento melhorou e teve uma alta de vendas. Depois da reabertura dos restaurantes, nossas vendas caíram, mas agora voltaram ao normal”, garante.

Com uma freguesia fixa e outra flutuante, o feirante ressalta que tem freguesas que compram semanalmente. “A tradição da barraca também é familiar, tendo começado pelo pai [Wanderlei, há mais de 60 anos] e passado para os filhos”, conta Sérgio, que é o gerente da barraca que vem para Itu.

Trabalhando com uma mercadoria bastante perecível, o feirante diz que todos os cuidados são tomados. “Vamos ao CEAGESP [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo] duas ou três vezes por semana e temos freezers para manter a mercadoria bem conservada nos nossos depósitos”.

Sérgio aponta uma vantagem de ser feirante sobre quem tem o comércio fixo: “o fixo fica em um lugar só. Nós estamos em dois, três pontos diferentes e isso facilita para nossos clientes”, destaca.

Serviço – Em Itu as feiras livres funcionam de terça a domingo, sendo que no domingo é das 06h às 11h e nos demais dias, das 06h às 10h30. A feira do Itaim é das 17h às 22h. Terça – Vila Nova, quarta – Portal do Éden e Itaim, quinta – Cemitério. Sexta – Rancho Grande, sábado – Cidade Nova, Bairro Alto e Parque Industrial e domingo – Mercado Municipal, Jardim Aeroporto e Jardim União. Há, ainda, a Feira Noturna do Mercadão, às sextas-feiras das 17h às 22h.