Saúde em Foco: A saúde pública do século XXI

Por Dr. Eneas Rocco*

Sempre que pensamos em saúde pública, o que nos vem à mente de imediato são os programas de vacinação e o ciclo de serviços do saneamento básico. Foi graças ao fomento dessas ações, que nas últimas cinco décadas a incidência de quadros infecciosos deixou de estar no topo da lista das principais causas de mortalidade. Em que pese a mudança relativa de sua posição, as doenças transmissíveis ainda não foram superadas e uma abordagem preventiva deve continuar sendo mantida.

Em paralelo, o cenário de morbimortalidade do século XXI, pede uma nova atitude das autoridades sanitárias. Hoje existe um predomínio absoluto de doenças degenerativas, que se associam a causas preveníveis e tratáveis como já dissemos em nossa coluna anterior sobre os fatores de risco.

Muitas ações já estão postas em prática de longa data como por exemplo a distribuição gratuita de medicamentos para o diabetes melitus e a hipertensão arterial.

No entanto, há necessidade de incorporar novos elementos envolvendo a mudança de hábitos de vida da população. A expectativa de vida em alguns países como Japão, já ultrapassa os oitenta anos e a qualidade de vida fica muito prejudicada senão houver essa atenção à promoção da saúde.

A pesquisa nacional de saúde de 2019 divulgada pelo IBGE revelou que na população adulta, 40% são sedentários, com alguns agravos como entre as mulheres que cerca de metade não é suficientemente ativa e a população idosa que ao redor de 60% prática menos de duas horas e meia de exercícios físicos por semana.

A organização mundial da saúde define duas horas e meia por semana de prática de exercícios de intensidade moderada como caminhadas, hidroginástica, musculação e atividades domésticas, como sendo um divisor para considerar o indivíduo como ativo.

Tive a oportunidade de conhecer antes da pandemia de COVID uma cidade modelo nesse quesito desportivo que é a pequena Matosinhos no norte de Portugal, cuja população de cento e setenta mil habitantes, tem cinquenta mil praticantes de exercícios físicos de múltiplas modalidadestanto aquáticas quanto em solo, desde bebês até octogenários de modo inteiramente gratuito. O projeto iniciado há 20 anos, atinge esse resultado invejável graças à vontade política, dotação de equipamentos públicos e principalmente à confiança dos dirigentes envolvidos.

Nossa bela e turística cidade de Itu tem população idêntica à de Matosinhos. Por que não justificar a fama de cidade dos exageros, quem sabe acrescendo o título de cidade da inovação em promoção de saúde? O povo de Itu iria adorar!!

*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.