Espaço Acadil: A morte esquecida

Guilherme Del Campo       
Cadeira nº 11 I Patrono Mario de Andrade

Medo da morte todos tem. Um simples pensamento sobre isso, provoca pavor e calafrios na maioria das pessoas. Creio que esse horror deve-se, principalmente ao desconhecido e por mais que as religiões e a filosofia nos orientem a respeito, continuamos a temê-la e prontos a fugir dela, a qualquer preço.

Porque esse terror, se a morte é a coisa mais natural do mundo e acomete inexoravelmente a todos nós? Ninguém vive para sempre e enquanto a gente vai outros vêm… Talvez uma condicional, que permeia esse medo, esteja relacionado sobre as questões materiais. Não queremos ficar longe das nossas conquistas, duramente obtidas através do trabalho árduo. Como deixar nossas casas, automóveis, os bens menores, nossos investimentos financeiros, além de nos privar da companhia dos nossos cônjuges e filhos? Isso sem contar com os amigos e daqueles que nos são caros. O fato é que, após alguns anos não seremos mais lembrados, nem nossas datas de nascimento e morte.

Membro da Acadil (Academia Ituana de Letras) ouço, às vezes, que nós somos “imortais” – palavra linda que não significa nada. Talvez sobrevivamos nas lembranças dos que ficaram, dos simpáticos leitores que leram nossas crônicas e livros.

Mas não se iludam, se o passado é apenas uma referência e o futuro encerra uma incógnita, então viva o presente, com intensidade.

Quanto aos acadêmicos eu diria que eles deveriam se alegrar, sob a perspectiva da eternidade literária, pois todos nós seremos,um dia, esquecidos. Se não repousarmos nossos ossos em gélidos túmulos, nossas cinzas serão lançadas no mar ou num rio poluído.

Numa consulta médica e após o médico examinar exames recentes, recomendou-me abandonar o açúcar, alimentos gordurosos, reduzir o consumo do álcool e fazer exercícios físicos, perguntou-me:

– Você não tem medo de morrer?

Soltei uma gargalhada, mas depois desculpei-me:

– Doutor, eu não tenho essa preocupação e talvez por isso sou feliz. E o senhor?

– Tenho verdadeiro pavor da morte!

– Doutor, a morte é o nosso maior destino e por isso não devemos temê-la, pois na maioria das vezes ela pode nos ser misericordiosa, poupando-nos de sofrimentos, de dores atrozes, abreviando-nos a vida. Em idade avançada, nosso organismo não responde mais aos medicamentos, aos tratamentos inúteis e acabamos com falência dos órgãos.

– Sei disso, mesmo assim tenho pavor.

– Veja doutor, quanto mais vivemos e mais velhos, mais entes queridos perdemos, até ficarmos sós, sem ninguém para nos relacionar.

– Doutor, às vezes eu me pergunto: – Será que do outro lado, encontrar-nos-emos com eles? Vamos matar as saudades? Será que…- Muitas perguntas e poucas respostas.

Não tenham medo da morte. A religião católica nos promete a vida eterna (almas) enquanto a filosofia espírita indica-nos futuras reencarnações (espíritos).

Todas estão certas. Mas fiquem com Deus e sejam felizes!